O pensador

O pensador
Porque às vezes é preciso pensar um pouco...

sábado, 18 de setembro de 2010

Minha vez...

Bem, nesse post eu vou fazer um pouco diferente do que foi feito no anterior. Ao invés de conduzir o leitor à uma conclusão, à uma opinião própria, eu irei reproduzir aqui um conto escrito por mim algum tempo atrás. Esse conto tem uma moral e transmite uma idéia, agora sim, minha.


O TRONO E O FIDALGO

Certa vez um velho fidalgo, dono de tão extensas terras, num súbito relampejo da mais pura vaidade e luxúria, inventou que seu hermoso trono não mais lhe servia. Tal trono no qual passava boa parte de seu tempo e exercia seu poder com curiosa preocupação a minúcias, estava segundo ele, obsoleto. Além disso resolveu também atribuir ao mesmo a culpa de suas dores nas costas. Reuniu então uma horda de empregados que reviraram todo o seu reino à procura do trono perfeito.

E assim, toda vez que era encontrado um possível substituto de seu objeto idealizado, era imediatamente enviado para o castelo. Aos montes foram chegando e se pilhando no pátio da propriedade principal, feitos das mais variadas madeiras e das mais diversas almofadas, enfeitados com os adornos mais caros e dignos da realeza.

No entanto, para o exigente nobre, nenhum deles era ideal para sustentar seu tão ilustre corpo. Um mancava apesar de estar perfeitamente no prumo, outro não tinha brilho, apesar de ser feito de mogno impecavelmente polido e lustrado, outro lhe pontava nas costas, apesar de não haver uma imperfeição sequer.

Meses se passavam e as peças que a pouco eram obras de gosto refinado, se tornavam montes de lenha no pátio. Devido ao fato de o nosso fidalgo sempre ter possuído todos os bens que almejara, não sabia o significado da derrota e nunca se sentira tão impotente como daquele modo. Indignado, convocou uma centena dos súditos mais leais e conhecedores da arte e enviou-os aos reinos vizinhos e para mais longínquos lugares à busca de seu cada vez mais cobiçado e sublime trono.

Com o passar do tempo o velho se sentia cada vez mais abatido, pois seu desejo, que já era uma obsessão, nunca se tornava realidade. Não havia mais onde colocar tantos tronos, frutos de estilos de artes diferentes, com origens das mais diversas culturas, que chegavam em grandes carregamentos a todo momento. Por falta de espaço, toda aquela madeira era transformada em cinzas, suas chamas ao fim do dia se exauriam. Então o fidalgo também sentia que, juntamente com as chamas que se apagavam ao consumir o que restou dos tronos, se apagava também sua esperança de encontrar o utópico objeto de desejo.

Numa manhã quando os servos desocupavam cômodos para armazenar um novo carregamento que chegara, o nobre conferia a carga como de hábito. Nessa busca, se depararam com um quarto trancado que não se recordaram de terem, alguma vez, o visto aberto, o que foi causa de estranhamento. Quando o curioso senhor chegou ao local, percebeu que se tratava do quarto de seu pai que morrera há muitos anos atrás quando ainda era pequeno, deixando muita dor e sofrimento e, para evitar melancolia, nunca mais fora aberto.

O fidalgo pede para um guarda arrombar a porta e lá dentro se depara com os antigos bens de seu falecido pai. Após fazer um breve inventário, depara-se com algo coberto, que lembrava uma cadeira. Nesse instante, o fidalgo se surpreende ao perceber que objeto misterioso é o antigo trono que um dia fora usado por seu pai, inspirador de profunda nostalgia.

 Ao sentar-se, maravilha-se imediatamente com a peça que lhe passa a sensação de conforto e aconchego de um abraço paterno. É quando descobre que aquilo que tanto procurou sempre esteve perto dele, e que ele passava todo dia por sua frente, sem poder se dar conta de que estava ali, tão perto.


Diego M. Piasentin
Tietê, 03 de Janeiro de 2010
 

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